Primeiro bate e depois quer consolar, diz irmã de petista morto sobre telefonema de Bolsonaro

Eles afirmam que o vídeo da conversa com os irmãos foi usado para cunho político, quando as declarações de Bolsonaro e Mourão não foram legais / Reprodução Artur Rodrigues/ FolhaPress

Uma das irmãs de Marcelo de Arruda, petista assassinado em Foz do Iguaçu, criticou nesta quarta-feira (13) o uso político do vídeo de seus irmãos conversando com Jair Bolsonaro (PL) e disse que o presidente só se compadeceu da vítima após ter dado declarações nas quais minimizava o caso.

Luziana de Arruda reprovou declarações do presidente e do vice, Hamilton Mourão, e disse que eles resolveram consolar a família devido às proporções que o caso tomou.

"[O vídeo da conversa com os irmãos] foi usado para cunho político, quando as declarações do senhor presidente da República e do seu vice não foram as declarações legais", disse.

Marcelo foi assassinado a tiros pelo policial penal bolsonarista Jorge José da Rocha Guaranho após ele invadir sua festa de aniversário com temática do PT. Jorge também foi baleado e está internado em estado grave.

Bolsonaro criticou a violência de "petistas" que chutaram a cabeça de Jorge, após a troca de tiros com Marcelo. Ferido, no chão, o atirador foi alvo de chutes de convidados que estavam na festa do militante do PT.

O presidente disse ainda esperar a conclusão da investigação "para a gente ver que teve problema lá fora, onde o cara que morreu, que estava lá na festa, jogou pedra no vidro daquele cara que estava com o carro do lado de fora". "Depois, ele voltou e começou o tiroteio lá e morreu o aniversariante."
Mourão minimizou o caso ao falar que ocorre "todo final de semana", com "gente que provavelmente bebe e aí extravasa as coisas".

Sobre isso, a irmã de Marcelo disse: "De repente eles resolvem se compadecer da nossa família, resolvem querer nos ouvir. Acho que ele [Bolsonaro] viu que a coisa tomou proporção gigantesca e resolveu voltar atrás das palavras".

"Depois que bate ele resolve consolar. A mesma mão que pune é a mesma mão que afaga?"

Luziana também criticou o modo como o vídeo do telefonema foi divulgado. "Para nós foi um choque o que aconteceu e ver daquele jeito a divulgação do vídeo", disse.

Luziana, 44, é a caçula dos sete irmãos e era bastante próxima a Marcelo. Ela disse que ainda não conversou com os irmãos sobre o episódio.

A ligação por vídeo foi feita pelo deputado bolsonarista Otoni de Paula (MDB-RJ), que esteve na casa de um dos irmãos de Marcelo, com o aval de Bolsonaro, para intermediar a conversa. Segundo ele, o presidente conversou com dois irmãos do petista assassinado: José e Luiz de Arruda.

Luiz disse à reportagem nesta quarta que a família ainda não tomou nenhuma decisão sobre o convite de Bolsonaro para visitar o Palácio do Planalto na quinta (14) e participar de uma entrevista coletiva.

A reportagem apurou que entre parte dos familiares esse pedido sofre muita resistência. Segundo relatos ouvidos pela Folha de S.Paulo, a viúva de Marcelo, Pâmela Suellen Silva, também tem resistência e disse que só participaria se fosse em uma coletiva aberta, onde ela pudesse falar livremente.

Ela disse ter ficado surpresa com o telefonema do presidente aos irmãos de Marcelo, que não estavam na festa. "Absurdo, eu não sabia", afirmou ao UOL.

Ao Globo ela disse que Bolsonaro está usando a situação politicamente. "Acredito que Bolsonaro está preocupado com a repercussão política, porque, tanto no vídeo que fez no cercadinho como no que conversa com os irmãos do Marcelo, Bolsonaro diz que estão tentando colocar a culpa nele."

A reportagem tentou contato diversas vezes com Pâmela, sem resultado.

O filho mais velho de Marcelo afirmou à Folha de S.Paulo que o vídeo da conversa de seus tios com o presidente Bolsonaro está sendo usado sem autorização para uma possível campanha.

Leonardo de Arruda, 26, criticou o uso político do material. "Gravaram, publicaram sem autorização da minha família, estão usando a imagem da nossa família para uma possível campanha. Não basta o que fizeram com meu pai e estão usando o nome da minha família", disse.

Para ele, a culpabilização de seu pai tem incomodado bastante. "O ódio não está em mim, na nossa família. A gente estava comemorando, não foi a gente que procurou isso. Não foi a gente que matou. A gente não odeia ninguém."

Leonardo afirma que um dos seus tios, inclusive, cobrou que parte da imprensa se retratasse por essa postura. "Meu tio pediu retratação pública, pedindo para a imprensa que está colocando meu pai como causador de tudo, para dizer que ele foi a vítima de um assassino extremista."

O rapaz não citou Bolsonaro diretamente, mas o presidente criticou a violência de "petistas" que chutaram a cabeça de Jorge, após a troca de tiros com Marcelo. Ferido, no chão, o atirador foi alvo de chutes de convidados que estavam na festa do militante do PT. Jorge permanece internado.

Fonte: BNews

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