Lula espera convencer Trump a pausar tarifas; EUA vão priorizar etanol e big techs


Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entrará na sua primeira reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com a expectativa de conseguir convencer o americano a pausar o tarifaço aplicado contra o Brasil enquanto os dois países negociam os termos de um acordo bilateral.

Ao longo da última semana, negiais dos EUA, em que os americanos apontaram as suas prioridades nas negociações: conseguir acesso ao mercado de etanol no Brasil e discutir a regulamentação de big techs, incluindo moderação de conteúdo.

Os americanos afirmaram que a regulação das plataformas digitais está ligada a questões de liberdade de expressão. Já o etanol é uma queixa antiga dos americanos. A reclamação é que o etanol americano, feito de milho, enfrenta uma sobretaxa de 18% para entrar no Brasil, enquanto a barreira nos EUA era de apenas 2,5%.

Já o lado brasileiro aponta que Washington nunca aceitou vincular discussões sobre o etanol a uma liberalização do mercado de açúcar nos EUA, altamente protegido.

Os presidentes não devem entrar nos detalhes das concessões sobre esses produtos, cuja discussão ficará reservada a um segundo momento, entre negociadores, caso as conversas avancem.

O próprio Lula reconheceu isso em entrevista a jornalistas durante a viagem à Ásia. O presidente disse que um acordo efetivo não será feito durante a reunião, mas nos encontros entre os negociadores do Brasil e dos EUA.

Embora não confirmado oficialmente, o encontro está previsto para este domingo (26), na Malásia, enquanto ambos os líderes participam da cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).

Membros do governo brasileiro e americano destacam que a caneta é de Trump e que é ele quem decidirá se suspende ou não as tarifas. Os EUA aplicaram sobretaxas de 50% ao Brasil, sendo 10% consideradas recíprocas –e implementadas contra todos os países. Os 40% restantes estão atreladas a questões políticas, como a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.

A expectativa é que a conversa entre Trump e Lula gire em torno principalmente desta última fatia. O objetivo do governo brasileiro é conseguir um acordo nos moldes do que o presidente americano já costurou com países como China e México: suspender as tarifas enquanto a negociação definitiva se desenrola em segundo plano.

Lula também pedirá a reversão de sanções aplicadas a autoridades brasileiras, como a punição pela Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e a suspensão de vistos.

Oficialmente, nenhum dos governos confirmou a reunião. Mas, nos bastidores, um integrante de alto nível da administração Trump diz que o republicano quer encontrar Lula e que há tratativas para tal. Diplomatas do governo brasileiro dizem o mesmo.

O encontro ocorre nove meses após a posse de Trump e após meses de uma crise inédita entre os dois países. A conversa vem sendo costurada pelos chefes das diplomacias de ambos os lados.

Na semana passada, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o secretário de Estado, Marco Rubio, tiveram a primeira reunião após os EUA aplicarem uma série de sanções ao Brasil, considerada a largada das negociações para reduzir os 50% de sobretaxas aos produtos brasileiros.

"Se eu não acreditasse que fosse possível fazer um acordo, eu não participaria da reunião. Se bem, que o acordo não vai ser feito amanhã, ou depois de amanhã, quando eu me reunir com ele. O acordo será feito pelos negociadores", declarou.

Embora o foco sejam as tarifas, outros temas de relação bilateral devem permear a conversa. A expectativa é que Lula aborde a ofensiva militar dos Estados Unidos na Venezuela. O governo afirma que essa iniciativa pode causar desestabilização na América do Sul, além de ter efeito contrário, com fortalecimento do crime organizado.

Como revelou a Folha, esse tema já foi tratado por Lula com Trump durante ligação telefônica entre os dois, porque o assunto é considerado relevante pelo Brasil.

Nesta sexta, Lula afirmou, durante passagem por Jacarta, na Indónesia, antes de ir a Malásia, que não há assunto proibido na conversa com Trump. "Podemos discutir de Gaza, à Ucrânia, à Rússia, à Venezuela, a materiais críticos, a minerais, a terras raras. Podemos discutir qualquer assunto", declarou.

Fonte: Bahia Notícias

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