Morte de criança em UPA de Itapuã expõe falhas e suspeita de falsificação de prontuário: 'Meu filho não resistiu', desabafa mãe

Mãe acusa UPA de falhas no atendimento | Reprodução/ Acervo pessoal

Cinco meses após a perda do filho, Priscilla Vaz, mãe de Marcos Túlio, que tinha 5 anos, denuncia três médicos da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Itapuã, em Salvador. Ela afirma que o menino morreu no local devido a falhas no atendimento dos profissionais.

Ao BNEWS, Priscilla recordou que levou a criança para atendimento de urgência no dia 27 de março deste ano, Marcos vomitava, sentia febre e mal-estar. Foram feitos uma avaliação e a criança foi liberada com diagnóstico de dengue.

Marcos estava com dor de cabeça, febre, vômito, respiração ofegante e muita moleza no corpo. Por isso, levamos ele para a UPA de Itapuã, na quinta-feira à noite, por volta das 18h. Ele foi atendido por duas médicas, Ana Paula e Ana Verena. Recebeu soro, remédio para enjoo e dipirona. Também fizeram exames de sangue, com suspeita de dengue”, recorda com emoção.

Priscilla aponta que o exame do filho foi alterado. “Esse exame, feito ainda na quinta-feira, já estava todo alterado. O teste para dengue deu inconclusivo por falta de material. Marcos estava desidratado, e houve dificuldade para colher as amostras. Hoje eu consigo dizer isso porque temos o inquérito concluído e o prontuário dele daquela noite”, conta.

“Na sexta-feira, Marcos continuava no mesmo estado em que estava quando recebeu alta na quinta, tomando apenas a mesma [dipirona] medicação. No final do dia, ele piorou, e levamos novamente para a UPA. Quem o recebeu foi a mesma médica, Ana Verena, que havia dado alta no dia anterior. Marcos chegou com a pulseirinha vermelha, saturação de 56, e foi direto para a sala de reanimação, já em parada cardíaca. Teve a troca de plantão, e a médica deixou o atendimento, mas Marcos já estava muito mal. Contar tudo isso é muito difícil para mim, porque é reviver aquele momento doloroso”, lembrou Priscilla.

O laudo do IML apontou que a criança morreu de meningite. A mãe contratou um advogado e, após reunir documentos da unidade de saúde, afirmou ter encontrado indícios de homicídio e falsidade ideológica, já que a médica responsável não era pediatra. O caso foi registrado na 12ª Delegacia Territorial da Polícia Civil da Bahia, que identificou problemas como falsificação de documentos e alteração de prontuários na UPA de Itapuã.

Ela não é médica clínica. Para ser clínica, é preciso fazer residência em clínica médica. Ela é médica generalista. Todo médico recém-formado é generalista, não clínico. Mesmo assim, ela assinava como pediatra, o que configura falsidade ideológica. Esse é um dos crimes apurados pela delegacia, e pelos quais ela deverá responder”, denuncia a mãe da criança.

Segundo a mãe, já existe relatório remetido à Justiça. No indiciamento feito pela delegada da 12ª Delegacia Territorial, a médica Ana Paula foi enquadrada por homicídio culposo. Já a médica Ana Verena responde por homicídio culposo, falsidade ideológica e falsificação de documento público, pois registrou no prontuário que Marcos havia feito um raio-X no dia do falecimento da criança — exame que, segundo as investigações e a família, nunca aconteceu.

Além disso, o diretor da UPA também foi indiciado por falsificação de documento público, após entregar um relatório no qual afirmava que Marcos tinha melhorado e, por isso, recebido alta. De acordo com a mãe, tudo já foi apurado pela delegacia, documentado e pode ser comprovado. Ao todo, três médicos foram indiciados no caso.

O BNEWS questionou a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) sobre o ocorrido e como pretende avançar a partir da denúncia e das provas policiais contra os médicos da unidade.

A pasta informou que "já adotou as medidas legais e administrativas cabíveis quanto ao ocorrido". Além disso, a SMS ressaltou que tratar de procedimento em andamento, as informações seguem em caráter sigiloso, conforme prevê a legislação. A SMS reafirma seu compromisso com a transparência, a responsabilidade e o fortalecimento contínuo da qualidade da assistência prestada à população".

Quando procurada sobre o caso, a Polícia Civil da Bahia informou que o inquérito policial foi concluído com o indiciamento de duas mulheres por homicídio culposo. Uma delas também está sendo indiciada por falsidade ideológica, assim como um homem, que é suspeito dessa prática criminosa. O procedimento foi encaminhado ao Poder Judiciário no dia 11 de setembro deste ano.

Fonte: BNews

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