Tarifa de Trump sobre filmes rodados fora dos EUA causa rebuliço internacional

Foto: Reprodução / Redes sociais


Donald Trump causou alvoroço na indústria cinematográfica mundial ao sinalizar que pretende impor uma tarifa de 100% sobre filmes americanos produzidos fora dos Estados Unidos. De acordo com o portal Variety, o sentimento, ao redor do mundo, é de choque e descrença.

Apesar de ainda não estar claro como essas taxas afetariam as produções ou quais delas estariam mais vulneráveis, há uma preocupação generalizada de que elas desestabilizariam ou mesmo inviabilizariam a o setor, que depende de incentivos internacionais e de locações estrangeiras.

Não estava claro se as tarifas se aplicariam a filmes em serviços de streaming, bem como àqueles exibidos nos cinemas, ou se seriam calculadas com base nos custos de produção ou na receita de bilheteria. Executivos de Hollywood estavam tentando esclarecer os detalhes na noite de domingo. A Motion Picture Association, que representa os principais estúdios, ainda não se pronunciou.

É nebuloso até se as tarifas serão de fato aplicadas, já que o presidente, ao anunciá-las no último domingo (4), em suas redes sociais, optou pela mensagem vaga de que estava "autorizando" seu Representante de Comércio e seu Departamento de Comércio a imporem as ditas medidas. Outras questões seguem em aberto, como se essas taxas se aplicariam também às produções para a televisão.

Kush Desa, o porta-voz da Casa Branca, disse ao portal The Hollywood Reporter que os detalhes da proposta de Trump ainda estão sendo avaliados. "Embora nenhuma decisão final sobre tarifas de filmes estrangeiros tenha sido tomada, nossa administração está explorando todas as opções para cumprir a diretriz do presidente Trump de salvaguardar a segurança nacional e econômica do nosso país, enquanto 'torna Hollywood grande outra vez'", afirmou, em referencia ao bordão do republicano.

"Isso implica que um filme americano deve ser filmado nos Estados Unidos", disse um produtor do Reino Unido à Variety. "Mas os filmes de 'Harry Potter', 'O Senhor dos Anéis', 'A Lista de Schindler', 'Missão Impossível', 'Gladiador', 'O Aviador' e tantos outros são filmes americanos foram filmados no exterior por razões óbvias. Esses filmes terão que ser gravados nos EUA a partir de agora? É um anúncio absurdo sem significado nem compreensão da narrativa ou impulsos criativos."

"Se isso for adiante, vai dizimar a indústria. Mas você não pode simplesmente parar a produção", disse outro produtor. "Quando isso vai entrar em vigor? E quanto aos filmes em pré-produção, que estão sendo filmados ou em pós-produção? Você simplesmente dobraria seus custos? Nada disso foi pensado. Então, acho que a resposta calma é, vamos ver o que isso significa, vamos ver os detalhes."

Mesmo antes da notícia, Gaëtan Bruel, presidente do Conselho Nacional de Cinema da França, já temendo medidas desse tipo, afirmou que elas seriam prejudiciais a todos os lados, começando pelos Estados Unidos. "A Europa, e a França em particular, são mercados importantes para obras americanas", que ele diz representarem aproximadamente 60% do conteúdo que as pessoas consomem na Europa.

Outras fontes ouvidas pela Variety em diferentes países da Europa rechaçam o anúncio de Trump.

Na França, o diretor de um festival de cinema importante e um produtor de filmes comerciais franceses questionam a validade da tributação sobre os filmes, que são serviços, não bens, segundo ambos. Na Itália, os Estúdios Cinecittà de Roma, que devem sediar as filmagens de "A Ressurreição de Cristo", próximo projeto de Mel Gibson —um dos embaixadores de Trump em Hollywood—, foram menos incisivos.

"Estamos observando com toda atenção os movimentos de um mercado importante como os Estados Unidos", disse a CEO da Cinecittà, Manuela Cacciamani, em um comunicado. "Estamos convencidos de que, especialmente na indústria cultural —e o setor audiovisual está na vanguarda— as trocas entre países devem ser o mais recíprocas e circulares possível."

"Sabemos o quanto as produções americanas se beneficiam de nossos incentivos fiscais e, acima de tudo, desse ecossistema de beleza, locações, clima, cultura, estilo, conhecimento, pelo qual sempre escolheram a Itália buscando qualidade que não pode ser encontrada em outro lugar", continuou.

Outros estão se afastando para ver se Trump cumpre suas ameaças ou segue em frente depois de gerar uma enxurrada de manchetes.

O produtor italiano Marco Valerio Pugini, envolvido com "The Dog Stars", de Ridley Scott, e com um programa coreano da Netflix, lembrou que o cinema é uma "aldeia global" e disse que é preciso esperar o próximo movimento de Trump, mas que não acredita que americanos vão deixar de filmar no exterior.

O clima de insatisfação e dúvida se expande para fontes do Oriente Médio, da República Tcheca e ligadas ao cinema independente ouvidas pela Variety. Ao redor do mundo, todos aguardam para saber o que do anúncio de Trump é bravata, e o que vai de fato se concretizar.

A publicação de Trump surge após uma queda de 40% na produção cinematográfica americana após o fim das greves de atores e roteiristas de Hollywood de 2023. Enquanto grupos de lobby pressionam o governo por mais incentivos, que precisariam tramitar no Congresso do país, o presidente parece enxergar uma alternativa nas taxações.

Apesar de a maioria dos filmes exibidos nos cinemas americanos ser produzida nos Estados Unidos, Hollywood tem recorrido cada vez mais a locais estrangeiros. Reino Unido, Canadá, Hungria, Nova Zelândia e Austrália estão entre os países que, segundo o New York Times, oferecem incentivos fiscais utilizados por empresas como Disney, Warner Bros., Universal Pictures, Netfliz e Amazon. A mão de obra desses lugares, frequentemente muito mais barata, é outro atrativo.

Como consequência, milhares de trabalhadores da indústria cinematográfica dos Estados Unidos perderam seus empregos. De acordo com a Aliança Internacional de Funcionários de Palco Teatral, cerca de 18 mil empregos de tempo integral foram eliminados entre 2022 e 2024.

Fonte: Bahia Noticias

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