"A gente pode amar quem a gente quiser, independente de gênero", diz Roberto Carlos

Roberto Carlos iniciou as apresentações nesta quinta (9)a (Foto: Ana Albuquerque)

Nelson Rodrigues dizia que brasileiro vaia até um minuto de silêncio. E os fãs de Roberto Carlos não são diferentes: quando um jornalista faz ao Rei uma pergunta de que não gostam, vaiam com toda força. E foi assim na entrevista coletiva que ele deu ontem, no projeto Emoções Praia do Forte. Quando lhe perguntaram sobre uma possível parceria com Anitta, os fãs, especialmente o público feminino, deu aquela vaia.

Como de costume, RC deu uma resposta diplomática: “Ela é uma grande artista, admiro a capacidade que ela tem de conduzir a carreira dela, de maneira que tem conseguido coisas fantásticas aqui e lá fora. Ela tem um senso de profissionalismo muito grande”. Depois, foi mais objetivo e, para alívio dos fãs - especialmente das mulheres, que se manifestaram mais efusivamente -, disse que não há previsão de trabalhar com a atual rainha do pop brasileiro. As vaias deram lugar a aplausos.

“Não estou planejando dueto com nenhum artista neste momento. Mas não tenho nada contra ela, se me apresentasse algo que interessasse. Ela já fez coisas muito boas”,. Mais aplausos!

Roberto está na Bahia para realizar três shows dentro do projeto Emoções, para um público total de 3,5 mil pessoas, dividido nas três apresentações. A primeira foi nesta quinta-feira (9). Os fãs passam quatro noites no hotel Iberostar, com direito a assistir a um dos espetáculos do Rei, além de apresentações de artistas como Tom Cavalcante e um karaokê só com canções de Roberto. E até a o encontro com jornalistas faz parte do pacote, que custa pelo menos R$ 5,5 mil por pessoa.

Aos 81 anos, Roberto segue fazendo um show impecável e emocionante, que começa sem ele no palco. A iluminação, que é uma atração à parte nos shows dele, e o medley instrumental de várias canções recepcionaram Roberto, que abriu a noite com Emoções e foi recebido pelo público de pé. O azul predominou a no palco e na roupa. “É muita emoção pra minha idade”, resumiu uma fã.

Roberto seguiu cantando clássicos como Além do Horizonte, Ilegal, Imoral ou Engorda, Você em Minha Vida e Desabafo, trocou o verso “de que vale o paraíso sem amor?” por “pois só vale o paraíso com amor” e brincou com trecho de Desabafo: “Descobri que é na hora que elas querem e não na hora que nós, caras, queremos. Precisamos saber admitir isso”.

Roberto fez duas horas de show e cantou clássicos de várias fases (Foto: Ana Albuquerque)

Moro e Lava Jato

O cantor parecia feliz e estava à vontade. Antes do início da entrevista, um assessor disse que não havia assunto proibido. Nem da política, ele escapou. Perguntaram sobre o apoio que ele deu à Operação Lava Jato e ao juiz Sergio Moro. Mais vaias para o jornalista. E uma fã se queixou sobre o questionamento: “Ih, nada a ver”.

Mas o cantor foi claro, embora tenha assumido que é “péssimo” em matéria de política: “Gostei do trabalho de Moro na época, mas agora não estou entendendo algumas coisas que estão acontecendo [na política brasileira], então prefiro não me manifestar. Mas continuo admirando o trabalho que ele fez”, disse.

Bem humorado, tratava os jornalistas com intimidade, chamando-os pelo aumentativo: um deles, Carlos, virou Carlão. E o Roberto que assina este texto foi chamado de Robertão. Quando foi chamado de “senhor”, interrompeu uma jornalista: “Senhor, não. ‘Você’, mesmo”. Fez uma reclamação ou outra, mas sempre em tom moderado. Queixou-se da luz que e do eco dos microfones.

Roberto Falou sobre sua rotina durante a pandemia e disse que tem seguido rigorosamente os protocolos. Uma das poucas aparições públicas durante o surto de covid foi na gravação do especial de fim de ano da Globo. Ainda assim, tomando todos os cuidados. Aproveitou para compor novas canções, como Bicho Solto, que deve ser lançada em duas semanas,.

Ele não deu detalhes da música, mas é praticamente certo que fale de amor, como quase todo seu repertório. E amor, para ele, não tem restrições. Quando lhe perguntaram se o amor tem gênero, foi direto: “Não!”. Mais aplausos. “A gente pode amar quem a gente quiser, independente de gênero. Respeito todo tipo de relacionamento porque as pessoas merecem ser felizes”.

Passado presente

O passado da carreira de também foi assunto. Ele relembrou como foi o encontro com Caetano Veloso em Londres, durante o exilio do baiano. O encontro aconteceu porque o Rei estava na capital inglesa para gravar parte de um de seus filmes. Estava com a colega Wanderléa e sua esposa da época, Nice. “Foi um momento de muita emoção. Muita emoção mesmo! Cantei para ele, e toquei no violão As Curvas da Estrada de Santos”. Segundo Roberto, Caetano emocionou-se a ponto de chorar.

Ele também falou do primeiro álbum, Louco Por Você, lançado em 1961. O cantor pouco fala daquele disco, que ganhou ares de lenda e parece ser rejeitado por ele. Um dos indícios disso é que ele não faz parte das caixas de CDs lançadas com a discografia do Rei. Ou quase toda, no caso. Há até rumores de que Roberto mandou recolher esses álbuns, mas ele negou.

A voz e o estilo daquele álbum de estreia renderam comparações com João Gilberto e o Rei não nega: “Fui muito influenciado por ele, até quando eu cantava antes, em boates. E aprendi com ele, porque a técnica dele de colocar a voz é uma coisa impressionante. Pouca gente conseguiu fazer igual. Eu era influenciado por João Gilberto. Mas depois fui pegando meu jeito”. Curioso para ouvir o álbum? “Oficialmente”, não vai conseguir. Mas nada que o YouTube não resolva, né?

Fonte : Correio

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