Salvador atinge menor taxa de ocupação de leitos de UTI desde novembro

    (Divulgação)

Desde o dia 16 de novembro de 2020 que Salvador não tinha uma taxa de ocupação de leitos de Unidade de terapia Intensiva (UTI) tão baixo. Naquela data, o índice estava em 50%. Ontem (7), atingiu 52% de ocupação, às 14h47. Os dados são de um levantamento do CORREIO com base nas informações dos indicadores da covid-19 da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS).

As maiores taxas até então foram nos dias 6, 19 e 23 de maio de 2020, quando a capital baiana chegou a 89 e 90% dos leitos ocupados. Porém, naquele período, o número de leitos era bem menor, em torno de 270 a 350. Hoje, são 759 disponíveis em Salvador.

Os últimos 15 dias também têm sido de queda na ocupação das UTIs. Desde o São João, no dia 24 de junho, quando a taxa atingiu 77%, ela só tem se reduzido - há 10 dias que ela está abaixo de 70%. Já nos últimos dois dias ela se manteve abaixo de 60%, o que indicaria a autorização para acionar a fase verde, a mais branda do protocolo de retomada da prefeitura.

De acordo com o decreto municipal publicado no dia 1 de abril, as fases são acionadas de acordo com a análise de vários e indicadores epidemiológicos, principalmente, a taxa de ocupação de leitos de UTI adulto.

A fase verde é a última dentre as quatro – roxa, vermelha e amarela, respectivamente – e permite que todas as atividades comerciais funcionem normalmente, sem restrição de horário e dia da semana, à exceção das praias, quadras esportivas e parques públicos, que não foram definidos pela gestão municipal.

A prefeitura, no entanto, nem no decreto, nem por meio da secretaria de comunicação, soube dizer quantos dias a taxa deve ficar igual ou abaixo de 60% para que a próxima fase seja acionada.

Para o coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Salvador, Ivan Paiva, a fase verde já pode ser ativada. Isso porque não são só as UTI que estão com baixa procura, mas também os gripários e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

“Na UPA dos Barris, tivemos um momento, hoje (7), sem nenhum paciente internado, nem na sala vermelha, que tem quatro leitos, nem na sala de observação, que tem 20 leitos. Já na unidade de suporte ventilatório eram 2 de 10 leitos ocupados, então temos tido baixa ocupação. Isso já vem sendo observado por cerca de sete a 10 dias”, revela Paiva.

Por isso, a prefeitura estuda desativar algumas das estruturas. “A gente já consegue ver um cenário de desmobilização das unidades, de leitos e gripários, porque não tem sentido manter os leitos ativos sem ocupação, eles só precisam atender a demanda que existe. Os dados de hoje já indicam a possibilidade de acionar esse plano de desmobilização, porque, a partir do dia 5 de julho, a gente poderia ter tido um incremento no número de casos. Hoje é dia 7 e não há tendência. Então há o indicativo, mas quem toma essa decisão, de onde desmobilizar, quando e como, é a gestão”, detalha o coordenador do SAMU.

Ele cita que o custo para manutenção de um leito de UTI chega a R$ 2.400 por dia. Ou seja, a prefeitura tem gasto R$ 1,8 milhão, diariamente, só para manter essa estrutura. Ele pondera, no entanto, que, da mesma forma que a desmobilização é possível, a reativação dos leitos, mais à frente, também pode ocorrer.

“Devemos estar sempre atentos, porque, assim como aconteceu na primeira onda, em que desmobilizamos uma grande quantidade de leitos, houve incremento do número de casos e reativamos. Por isso que monitoramos sempre esses dados. Não dá para desmobilizar hoje e reativar amanhã, porque também envolve contratação de profissionais e medicação”, pontua.

Segundo Ivan Paiva, há um mês meio e meio, a média de atendimentos nos gripários era de 700 por dia em Salvador. Hoje, esse número está em pouco mais de 200, isto é, apresentou queda de 71%. Já as transferências do SAMU caíram de 100 para 20 a 30 por dia, no mesmo período.

                                  Pressão nos gripários e UPAs também está menor

                                                       (Foto: Arquivo/CORREIO)

Outras taxas em queda

O professor do Instituto de Saúde Coletiva (Isc) da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Márcio Natividade, doutor em saúde pública e integrante da Rede Covida e do Geocombate, grupo de pesquisa da Ufba voltado para analisar o comportamento da pandemia nos bairros de Salvador, afirma que outros números epidemiológicos estão em baixa.

“As hospitalizações, a mortalidade e o número de casos, que são os principais índices da pandemia, têm tido redução, esses últimos uma redução mais discreta. Mas, principalmente nos últimos 15 dias, tem havido essa tendência de queda”, revela Natividade.

O pesquisador pontua, no entanto, que ainda é cedo para afirmar que há uma melhora significativa do cenário pandêmico na cidade. “Temos novas cepas circulando, então ainda é muito cedo para afirmar que estamos em queda. Se a cepa indiana entrar no estado, teremos novos casos e, consequentemente, novas hospitalizações, pois elas geram o efeito cascata”, alerta.

Para o professor do Isc da Ufba, é preciso esperar que essa tendência seja mantida por, pelo menos três semanas. “Para ter um pouco mais de certeza da redução gradativa, devemos aguardar três a quatro semanas para conseguir acompanhar a evolução dos indicadores. Se, a cada sete dias, que é a média móvel, essa redução se mantém, é porque estamos em queda. O que não quer dizer que os casos, mortes e hospitalizações não estejam sendo notificados, eles estão ocorrendo. Porém, em menor quantidade, quando comparado aos meses de fevereiro a abril desse ano”, explica.

Natividade ainda diz que essa melhora, ainda que superficial, dos números da pandemia na capital baiana possa estar vinculado ao avanço da vacinação contra covid-19. Mesmo com a aplicação da primeira dose suspensa, Salvador vacinou 1.593.649 pessoas, de acordo com o vacinômetro da SMS. Isso equivale a 55,2 % da população. A maioria foi com a primeira dose: 1.164.331 pessoas.

“Ainda é cedo para poder afirmar que [a redução] é por conta da imunização. A vacinação vai ter um impacto na produção de casos e, principalmente na mortalidade e hospitalizações, porque esse é o principal objetivo da vacina. Outra hipótese é a prevalência de infectados. Salvador tem alto número de infectados e alguns deles desenvolvem uma certa imunidade no seu sistema imunológico”, conclui Natividade.

Pituba ainda é líder no número de casos

O bairro da Pituba ainda é o líder do número de casos, com 7.176, seguido de Pernambués (6.582), Brotas (6.158), Itapuã (5.097) e Fazenda Grande do Retiro (4.398). Ao todo, desde o início da pandemia no município, são 226.565 casos confirmados da doença, sendo 219.794 recuperados e 6.999 óbitos. Outros 173.901 casos são considerados suspeitos.

A maioria dos infectados pela covid-19 em Salvador é do sexo feminino (55%), de cor parda (41%) e com idade entre 30 e 49 anos (46%). Cerca de 7% dos casos acomete os profissionais da saúde e 12% das pessoas que têm comorbidades.

Leitos de UTI na Bahia caem para 64%

Na Bahia, a taxa de ocupação de leitos de UTI também tem se reduzido. Nesta quarta-feira (7), ela chegou a registrar 64% de ocupação e fechou o dia em 68%. Essa queda se mantém desde meados de junho. Para o secretário da saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, é um bom indício, principalmente porque, o que se previa, era um aumento no número de casos após os festejos juninos.

“Creio que o platô já é um reflexo. Parou de cair [o número de casos]. Imaginávamos um crescimento grande”, afirmou Vilas-Boas ao CORREIO. Pelo Twitter, na noite de terça-feira (6), ele também falou sobre os números. “Número de casos vinha em queda nos últimos 15 dias, porém nesta última semana houve interrupção da queda e atingimos um novo platô. Importante observar o que acontecerá ao longo dos próximos dias. Otimismo cauteloso”, acrescentou.

No entanto, não é em todas as regiões baianas que o cenário está otimista. De acordo com dados da Superintendência De Estudos Econômicos E Sociais (Sei), que usa os dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), a ocupação de leitos de UTI está em 100% na região Nordeste. As das regiões Sudoeste e Oeste também preocupam: registram 92% e 76%, respectivamente.

A região que mais registrou casos confirmados e óbitos da convid-19 foi no Leste da Bahia: 375.554 infectados e 10.496 mortes. A ocupação das UTIs está em 63% na localidade. Onde menos se registrou mortes da doença foi no Centro-Norte - 832 baianos morreram da doença. O menor número acumulado de casos até agora foi no Nordeste, com 56.368 confirmados.

Procurado, o secretário municipal da saúde de Salvador, Leo Prates, não respondeu à matéria.

Bairros de Salvador com maior número de infectados por covid-19 (fonte: SMS)

Pituba - 7.176
Pernambués - 6.582
Brotas - 6.158
Itapuã - 5.097
Fazenda Grande do Retiro - 4.398
Liberdade - 4.067
São Marcos - 4.004
São Cristóvão - 3.783
Cabula - 3.772
Santa Cruz - 3.713

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

Fonte: Correio

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