Em meio à pandemia, foi comum ouvir que prefeitos, governadores e até mesmo o presidente Jair Bolsonaro estão “dando” benesses à população. Para ficar em três exemplos de transferência de renda, a capital baiana criou o “Salvador por Todos”, uma bolsa de R$ 270; o governo da Bahia atendeu a uma decisão judicial para fornecer auxílio-alimentação para estudantes da rede estadual, calculado em R$ 55 por mês; e o governo federal sancionou o auxílio-emergencial, batizado de coronavoucher, no valor de R$ 600. São garantias de recursos para pessoas em condição de vulnerabilidade social. Porém não são exclusivamente concessões como os discursos fazem crer.
Em 2019, o Brasil estava na 15º posição do quesito carga tributária. Ano passado houve um recorde de mais de 35% do Produto Interno Bruto. No entanto, o retorno ao cidadão que está na ponta é muito pequeno. A saúde pública não funciona como deveria, a educação está aquém do que poderia e o Estado segue pouco eficiente. A pandemia gerou uma oportunidade de tentar mitigar os efeitos desse problema histórico da alta concentração de renda no topo, enquanto a maioria do país controla migalhas das “riquezas do país”. Só que não vai acontecer.
Não há uma discussão séria sobre o assunto. O economista Mônica de Bolle, uma das vozes que ecoam com frequência nas redes sociais, incorporou uma premissa que o ex-senador Eduardo Suplicy defende há muito tempo: a renda mínima. A pauta é imprescindível em meio ao caos social instalado com a pandemia, porém não reverbera nas esferas de decisão. O Ministério da Economia finge que o tema não existe. Governos e prefeituras transferem o pouco da renda disponível, mas não possuem a capacidade orçamentária da União. E esse monstro da desigualdade fica ainda mais visível diante da crise sanitária.
Por isso é importante que a imprensa e a população entendam que os governos não estão “dando” qualquer auxílio ou “voucher”. Há uma aceleração do processo de transferência de renda, para tentar evitar o total colapso econômico - visto que é iminente que aconteça na área de saúde. O verbo mais adequado seria bem diferente do “dar”. No máximo um “retorno” do peso de sustentar um Estado que explora todos, mas que faz os pobres sofrerem ainda mais. Não acreditemos no discurso de que há governos bonzinhos. Eles fazem bem menos do que as obrigações.
Fonte: Bahia Notícias
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