Maxwell Simões Corrêa, sargento do Corpo de Bombeiros preso preventivamente ontem (10) por suspeita de ter ajudado a ocultar armas de um dos acusados de matar Marielle Franco, recebe salário líquido de cerca de R$ 4.600 por mês. Mas, segundo a polícia, é dono de um patrimônio milionário incompatível com sua renda, que inclui carros importados e um apartamento luxuoso de frente para a praia na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Amigo e braço direito de Ronnie Lessa, sargento da reserva da PM acusado dos assassinatos da vereadora e do motorista Anderson Gomes na noite de 14 de março de 2018, Suel, como é conhecido, também será investigado pelo crime de lavagem de dinheiro.
Segundo a DH da Capital (Delegacia de Homicídios), Maxwell trabalha com compra e venda de carros importados. Na garagem da casa de três pisos onde morava até se preso ontem, no Recreio dos Bandeirantes, também na zona oeste carioca, os agentes encontraram um BMW X6 no valor de R$ 170 mil. Segundo as investigações, o bombeiro já chegou a ter um Porsche Cayenne, avaliado em R$ 300 mil.
Ainda de acordo com a polícia, Maxwell possui um apartamento luxuoso de frente para o mar na avenida Lúcio Costa, na Barra, que custa cerca de R$ 2 milhões. O UOL foi ao local e conversou com moradores.
O condomínio, formado por três prédios de 27 andares, tem piscina, bar, restaurante e até uma academia. Com quatro quartos, os imóveis possuem cerca de 170 m². "A estrutura aqui é incrível. Tem de tudo", disse um morador, da janela de um carro importado, antes de entrar no local.
Procurado pelo UOL, o advogado Leandro Meuser, que representa Maxwell, disse que o patrimônio do bombeiro não está sob investigação. "Não tenho conhecimento dos bens, porque isso não tem relação nenhuma com a denúncia de obstrução de justiça. Se houver de fato investigação formal, vou apresentar defesa", disse. "Ele me disse: 'Não, doutor. Fica tranquilo, eu comprovo tudo isso'", completou.
Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que a corregedoria da corporação participou da operação para prendê-lo.
'Tua mãe deve saber', respondeu sobre armas ocultadas
Maxwell foi alvo de uma operação com cerca de 150 homens da DH, Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil, MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), PM-RJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro) e Corpo de Bombeiros, para cumprir dez mandados de busca e apreensão.
Investigadores apontam que ele teria sido o responsável por esconder por uma noite armas pertencentes a Ronnie Lessa —entre elas, segundo a polícia, poderia estar a submetralhadora usadas no assassinato de Marielle.
"Ele atuou junto com os demais comparsas no descarte de fuzis na praia da Barra da Tijuca, mais especificamente no quebra-mar. Ele tem participação fundamental no caso. Sem a conduta dele, esse resultado não teria ocorrido", disse o delegado Daniel Rosa, que detalhou a ação criminosa.
No momento em que era conduzido para a sede da DH da Capital, Maxwell foi abordado por repórteres. "Você jogou a arma no mar, Suel [apelido do bombeiro]?", questionou um jornalista. "Pergunta para a tua mãe. Ela deve saber", respondeu o bombeiro.
Preso no começo da manhã, Maxwell permaneceu na sede da DH por mais de seis horas. De lá, foi levado para o IML antes de seguir para a carceragem do Corpo de Bombeiros, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, na zona norte do Rio, com capacidade para 20 detentos.
Maxwell atirou em bandido para proteger Ronnie Lessa
Segundo a polícia, Maxwell e Ronnie Lessa se conhecem há pelo menos sete anos e nutriam uma estreita relação de amizade.
No fim de abril de 2018, foi o bombeiro quem saiu em defesa de Lessa em uma tentativa de assalto em um restaurante na avenida do Pepê, na Barra. "Perdeu, perdeu!", gritou o criminoso com um revólver, ao anunciar o crime e tentar tirar um relógio do pulso do PM da reserva, segundo testemunhas.
Lessa, que perdeu a perna esquerda em um atentado a bomba em 2009 e usava uma prótese, se desequilibrou e caiu. Maxwell sacou a sua arma e trocou tiros com o criminoso, que fugiu. O PM da reserva foi atingido no pescoço. O bombeiro se feriu no braço.
Mesmo atingido nas costas, o assaltante, depois identificado como Alessandro Carvalho Neves, conseguiu fugir, de moto —tempos depois, ele acabou sendo preso e condenado a 13 anos e quatro meses de prisão.
O advogado Leandro Meuser, que representa o bombeiro, negou a relação de amizade entre Maxwell e Ronnie. "Eles eram conhecidos, mas não tinham essa proximidade toda indicada pela polícia", contestou.
Fonte: Uol
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