Entidade publica carta aberta em protesto a morte de travesti e exige respeito à sua identidade de gênero; leia



AAssociação dos Estudantes Ipiraenses (Aeipi), da cidade de Ipirá, com o apoio da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), escreveu uma carta aberta para protestar contra a transfobia e exigir respeito à identidade de gênero da travesti,Kethley Santos, que morreu na última quinta-feira (11), no bairro de Piatã. Segundo a Aeipi e a Antra e outras entidades, que assinaram a carta, familiares, conhecidos e professores não estão respeitando sua identidade ao noticiar a morte de Kethley.

“Estão desrespeitando seu nome e sua existência enquanto mulher, enquanto pessoa trans”, diz. 

Anda conforme o documento, a Antra registrou 38 mortes de trans e travestis nos dois primeiros meses de 2020, sendo um aumento de 90% se comparado ao mesmo período do ano passado. “O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Aqui a expectativa de vida de pessoas trans e travestis é de 35 anos. Kethley tinha 20 anos”, completa. 

Confira a carta na íntegra: 

11/06/2020, a Transfobia aniquilou mais uma vida trans. Mais uma mulher trans, negra, foi assassinada no Brasil. Kethley Santos era natural de Ipirá e morava em Salvador, onde foi assassinada a tiros na madrugada desta quinta-feira.

O mapeamento realizado pela ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), registrou, somente em 2019, 124 casos notificados de assassinatos de pessoas trans e travestis. Desse total, 82% eram pessoas negras. Só nos 2 primeiros meses de 2020, já foram 38 notificações. Um aumento de 90% do número de casos, em relação ao mesmo período do ano passado. O Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Aqui a expectativa de vida de pessoas trans e travestis é de 35 anos. Kethley tinha 20 anos.

Assim como em diversos outros interiores, é muito complexo discutir questões de gêneros e sexualidades e o respeito às identidades de pessoas trans e travestis em Ipirá. Uma cidade no Sertão Baiano que ainda é fortemente ordenada pelo crivo moral religioso-cristão e submetida à uma dinâmica política oligárquica. O desconforto e o medo de andar pelas ruas, acompanha as existências das pessoas trans, em
qualquer cidade, seja no interior ou nas capitais. Porque nenhum lugar é seguro para pessoas trans e travestis.

Ao noticiar o falecimento, alguns parentes, professoras, professores e conhecidos seus de Ipirá estão desrespeitando seu nome e sua existência enquanto mulher, enquanto pessoa trans. A violência contra pessoas transgêneros e travestis é estrutural e aje também a partir
das instituições. A Escola é um dos espaços que devem acolher e colaborar na construção de uma Sociedade Democrática e inclusiva, no entanto, para pessoas LGBTQI+ e sobretudo para pessoas trans, este ainda é um espaço opressor e violento, uma vez que negligencia discussões pedagógicas que atuem no sentido do combate e superação da transfobia; viola o direito ao uso do nome social, além de
outras violências simbólicas cotidianas que negam a existência e o direito à Educação das pessoas trans e travestis.

Direito à Cidade, à Afetividade, a ocupar e desfrutar de espaços públicos em Segurança, à Educação, Trabalho, Moradia, ao reconhecimento e respeito, em vida e após a morte, são partes de uma luta extensa e desgastante que enfrentamos todos os dias. 

Além de toda barbárie transfóbica que retirou a vida de Kethley, ela sequer está tendo seu nome e gênero respeitados. Sua existência segue sendo invisibilizada. A Transfobia tem diversas faces. Atua desumanizando, desrespeitando agenciamentos, invisibilizando, despotencializando e aniquilando corpos trans e travestis de diversos modos. Além da morte física, este também é um grito de revolta contra mortes simbólicas. Sobre apagamento e desrespeito à memória, à autodeterminação, à
existência.

Parem de nos matar! Pessoas cis (pessoas que não são trans), precisamos urgentemente de vocês nessa luta! Ela também é responsabilidade de vocês. Movimentem-se. Combatam a
Transfobia! Revejam seus lugares de privilégios, suas construções identitárias e familiares. Movimentem suas redes socioafetivas, combatam as violências transfóbicas cotidianas, os desrespeitos naturalizados.

Responsabilizem-se pela luta antitransfobia e antirracista! Vocês nos devem isso. 

Estamos cansades, mas não vamos parar. Não temos essa opção.
Por toda vida e memória trans e travesti. Por todas as que vieram antes, pelas que aqui estão e para que muitas outras possam vir. Nossas vidas importam!

KETHLEY SANTOS, presente!
#VidasNegrasTransImportam
#CorposTransVivos
#VisíveisOAnoInteiro
Ipirá-BA, 12 de junho de 2020

Fonte: BNews

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