Depois de fazer sua festa com os jogadores da seleção brasileira pelo título da Copa América, Tite apareceu para conceder entrevista com o neto Lucca no colo no domingo (7). Ele chegou a se emocionar ao falar da família, mas não demonstrou a mesma alegria ao ser questionado sobre a presença do presidente Jair Bolsonaro (PSL) na celebração ou sobre as palavras de Messi sobre a competição.
O treinador não quis responder a respeito do político no gramado. Ele recebeu a sua medalha de campeão do próprio presidente da República, mas rapidamente se desvencilhou dele, indo ao encontro do presidente da CBF, Rogério Caboclo, a quem se entregou em um efusivo abraço.
Depois, o político do PSL se juntou ao elenco que posava com o troféu para tirar fotos ainda no gramado e ouviu gritos de "mito". Tite não aparece nas imagens. "Eu fico tão envolvido no futebol, tão envolvido nas situações... Sei que elas acontecem, mas minha educação e meu foco são naquilo que eu tenho de essência, que é o futebol, dentro de campo, minha ética. As outras situações são à parte", disse o técnico, respondendo a uma pergunta feita em inglês que lhe foi traduzida.
O questionamento chegou a ser interrompido pelo profissional da Conmebol que conduz as entrevistas coletivas, selecionando os repórteres que podem fazer as indagações. Tite acabou aceitando respondê-lo, mas apenas dizendo que seu foco é o futebol.
Terminada a entrevista, os jornalistas que não puderam questionar o treinador sobre a questão se aproximaram. "Só bola, só bola. Não quero entrar", disse o comandante, que deu a mesma resposta diante da insistência. "A resposta é: eu não quero entrar", concluiu.
Tite já se manifestou contrário à associação entre política e futebol. No ano passado, após a participação do próprio Jair Bolsonaro da festa do título brasileiro do Palmeiras, disse que não aceitaria situação semelhante e, citando "valores éticos, morais e competitivos", resumiu: "Minha atividade não se mistura".
Desta vez, o gaúcho preferiu o silêncio sobre o assunto. Algo que ele não fez a respeito das declarações de Messi. Irritado com a arbitragem na derrota por 2 a 0 da Argentina para o Brasil na semifinal e expulso na disputa pelo terceiro lugar, o craque falou em "corrupção" e disse que o torneio estava, "lamentavelmente, armado para o Brasil".
"Aquele que eu coloquei como um jogador extraordinário, como um extraterrestre, tem que ter um pouquinho mais de respeito. E tem que entender e aceitar quando é vencido. Fomos prejudicados em uma série de jogos. Ele botou uma pressão muito grande pela grandeza que tem", afirmou Tite, apontando que a seleção jogou "de forma limpa" contra ele.
"Quero entender isso como um momento. E posso falar que ele foi expulso de maneira injusta contra o Chile. Não merecia. Quem merecia era o Medel. Para ele, no máximo, amarelo. Mas cuidado para transferir situações. Nós tivemos que passar por cima da arbitragem hoje. Fizemos um gol legal contra a Venezuela. Hoje, não foi pênalti do Thiago! Calma, cuidado, respeito", acrescentou.
Sobre sua permanência na equipe verde-amarela, colocada em dúvida nos últimos dias, Tite manteve a posição da véspera, dizendo ter contrato até a Copa do Mundo de 2022. Ele sinalizou que deverá ficar, mas espera conversar com a CBF sobre o preenchimento das vagas abertas na comissão técnica antes de confirmar isso.
O diretor da seleção, Edu Gaspar, está de saída. O auxiliar técnico Sylvinho já partiu, a caminho do Lyon, e o analista de desempenho Fernando Lázaro, que trabalhou até a decisão da Copa América, vai segui-lo. Como os postos serão ocupados é uma questão que tem causado tensão entre o treinador e os dirigentes da CBF. BN
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